terça-feira, 1 de junho de 2010

Azulejo familiar

O meu pai nascido e criado em Lisboa até aos vinte e poucos anos, pediu-me um dia que o ajudasse a tentar descobrir a casa dos seus avós paternos em Pombeiro, Felgueiras, onde em criança chegara a passar férias, nunca mais tendo lá voltado. Mal houve oportunidade lá fomos. Senti o meu pai emocionado…e como hoje o compreendo! Tinha como pontos de referência o nome da casa (Vila Etelvira), que esta se situava próximo do Mosteiro de Pombeiro, e as memórias que retinha através de uma velha fotografia da casa. Como seria de esperar, já nada estava como há setenta e muitos anos… Mas o certo é que encontrámos a casa, ou melhor, as suas ruínas, invadidas pela vegetação. Mas conseguimos entrar. O meu pai estava muito, muito comovido, apontando o que restava de cada compartimento, evocando situações e pessoas que lhe eram queridas. Numa das paredes do rés-do-chão, e caídos no chão, no meio do matagal, ainda se podiam ver alguns azulejos. Afastei as silvas, arranhei os braços, mas o facto é que trouxe três ou quatro dos que estavam no chão. Não sabia muito bem que destino lhes dar. Um dia, passados largos meses, a ideia surgiu! Integrar os azulejos que pudesse nas paredes da minha própria cozinha. Mas como? Emoldurá-los não, picar paredes nem pensar! Fi-lo de uma maneira muito artesanal. Depois de mais ou menos alisado (só se aproveitou um), colei-lhe por trás uma cartolina grossa, depois uma fita-cola de dupla face e finalmente colei-o, na parede. Gostei do resultado final, mas ainda gosto mais do olhar embevecido que o meu pai lhe deita e das conversas que nas tertúlias familiares este azulejo colado na minha cozinha provoca.

4 comentários:

  1. Olá Maria Gabela
    Deixe que lhe diga...num relance desatou a escrever...e como escreve bem
    Adorei o seu post!
    Catapultou-me às minhas vivências, temos uma resma de cumplicidades,paletes de gostos idênticos, um sem nº de afinidades e muito amor pela família
    Assim é!
    O azulejo é muito bonito,o motivo é delicioso, com florzinhas, muito romântico!
    Para mim,tudo o que seja azul e amarelo em azulejaria é maravilhoso só de olhar !
    No imediato ao ler, quis a veleidade de sentir tais encantos que o mesmo ai em casa vos tem despertado, também sonhar nesse ambiente tão inspirador, calmo quiçá romântico ...
    Adoro sonhar, construir castelos no ar...nesta idade já não devia, mas que fazer se tal prazer me fascina!
    Que bom, um simples azulejo ter tanto power!
    Acredito que todos aí em casa se deliciam com lembranças boas do passado, embora tão presente ainda nesta vida a correr
    Que o seu pai viva muitos anos,com muita saúde
    Quanto ao azulejo ele ficará para testemunhar tantas e santas alegrias!
    Quem diria?
    Só possível em pessoas sensíveis e de bom carácter!
    Beijos
    Isa

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  2. Olá Isa
    Obrigada pelo ânimo que me dá quando diz que gostou do meu post e elogia o meu carácter. É verdade, temos uma série de gostos em comum. Quando espreitei o seu Lérias e velharias e vi que gosta de pedras...pensei, afinal não sou só eu :) A cada caminhada em que participo, lá venho eu com duas ou três pedras nos bolsos das calças e não as trago maiores porque não tenho como :)
    É verdade este azulejo( que era da cozinha da tal casa) é motivo de muitas conversas e histórias contadas pelo meu pai que tem 94 anos, óptimos, cheios de vigor físico e psíquico.Hei-de contar aqui algumas histórias contadas por ele. Tem histórias giríssimas de quando chegou a Angola em 1951...
    Um beijo para si também
    Maria Gabela

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  3. Moro em casa nova, feita a meu gosto. Integrei na construção alguns azulejos antigos e estou deliciado. Imagino o sentimento que se terá perante um azulejo antigo com histórias para
    contar.
    Gostei do blogue.
    Cumprimentos.

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  4. Olá Rafael Carvalho
    Obrigada pela sua visita.
    É um privilégio morarmos em casa nova e feita a nosso gosto. Para um leigo na matéria, esta última parte é difícil de conseguir:).
    Gosto da ideia de ter integrado alguns azulejos antigos na sua casa nova. Valorizo muito estes pormenores. O azulejo da minha foto tem muito significado para mim. Cada dia que passa gosto mais dele, ali assim exposto, no meio dos outros, único e velho, carregado das tais memórias que dão sentido ao presente.
    Um abraço para si
    Maria Gabela

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