Não gosto de ver montras. Sair, para ver montras, não obrigada! Bem bastou, quando era criança ter que acompanhar a minha mãe e um cortejo de tias, que parecia que aumentava a cada saída :) Tenho ideia, de este hábito ser frequente entre as senhoras, na década de sessenta.
Andar devagar, irritantemente devagar, parar em todas as montras, esmiuçar cada peça exposta, é-me demasiado penoso.
Mas, não sei como, no verão passado descobri que as montras podem ser um óptimo tema para fotografar. (daí, aparentemente este post ser sobre uma coisa de que eu não gosto). Umas vezes, por mérito de quem as concebe e arranja, outras, porque são precisamente o oposto da montra tecnicamente bem feita e outras ainda, porque mudando-se os tempos, mudam-se as vontades, ficam esquecidas entre paredes de estreitas vielas, adquirindo assim uma graça inesperada, que só a pátina do tempo consegue dar e que é o caso da primeira fotografia que mostro.
Na íngreme Rua da Olaria em Lamego, deparei com esta montra, que eu creio ser o que resta de uma casa de aluguer de fatos religiosos. Não fossem as marcas do tempo, e a fotografia não teria resultado.
Em pleno coração londrino, um grande armazém com quatro ou cinco montras iguais a estas expõem os diferentes artigos, com um toque de requinte e bom gosto, que me deixaram de nariz colado ao vidro várias vezes.
Esta primeira exibe uma miscelânea de artigos, todos eles com um ar muito requintado. Acho interessante a ideia da mistura de coisas tão diferentes como carteiras de senhora, perfumes, chávenas etc.
Bebidas expostas com sobriedade e sempre acompanhadas de objectos a que regra geral associamos ambientes requintados: pérolas, cristais, pratas etc.
As montras de lingerie, são sempre demasiado óbvias: ou nos esperam pernas ao alto para melhor podermos apreciar os acabamentos das meias, ou torsos plásticos, sem piada nenhuma, sem nada que prenda a atenção dos mais distraídos.
A montra de baixo vale pela originalidade da concepção. Gosto da ideia alternativa desta montra, que, comigo resultou, pois conseguiu o que dificilmente as outras conseguem, ou seja, fazer-me parar e olhar com interesse.
Esta última, fala por si. Não é minha intenção analisar aqui estas fotografias sob uma perspectiva sociológica, mas esta, talvez merecesse. Quando fotografei esta banca de bolos, no Camden Markets , não reparei na rapariga que aparece de costas e até cheguei a lamentar, a sua presença, pois não permitiu um enquadramento perfeito. Hoje, acho,que dá um outro sentido à fotografia.