quinta-feira, 28 de junho de 2012

Painéis de azulejos - Vilar Formoso


O meu medo de andar de avião aliado ao fascínio que sempre senti pelas viagens de comboio levaram-me a mim e à minha família, a optar por este último meio de transporte quando chegam as férias. E por causa deste meu medo irracional tenho feito belíssimas viagens de comboio, que, não troco por nenhum voo rápido e cómodo. Mas este post não é para falar das minhas aventuras ferroviárias, mas sim dos painéis de azulejos que revestem a estação de comboios de Vilar Formoso, que eu já atravessei algumas vezes no nosso mítico e tristemente degradado comboio sud expresso, que liga Lisboa a Paris e que este post do Fábio Carvalho me fez recordar.

São cerca de cinquenta painéis belíssimos (executados na Viúva Lamego e alguns  da autoria do pintor João Alves de Sá), representando quadros variados, que vão desde alguns dos nossos monumentos nacionais, até às paisagens e trajes típicos.Na época seriam praticamente, um roteiro turístico para quem chega :)

O primeiro painel mostra-nos um plano da rede ferroviária da Beira Alta, e das estradas de ligação às centrais de camionetes o que, para a época, deverá terá sido muito útil.
 O painel que se segue dispensa apresentações. Representa a Torre de Belém,  um dos nossos  mais emblemáticos monumentos, e ex libris de Lisboa.
Em baixo, a igreja românica de Cedofeita, de seu nome próprio, Igreja de S. Martinho de Cedofeita. Os historiadores dividem-se quanto à data da construção da igreja original; uns  apontam  para o ano de 446 e outros  defendem  o ano de 559. As duas versões, no entanto, atribuem-lhe origem Sueva, estando a última hipótese ligada à lenda, da cura do filho do rei Suevo Teodomiro. As figuras de S. Martinho de Tours e do bispo de Braga, S. Martinho de Dume estão ligadas a esta lenda.
Já fora do edifício, um singelo painel, com uma cercadura de folhas de loureiro e carvalho, ostenta o escudo nacional e  anuncia  a quem chega, o nome de Portugal,  marcando a transição entre os dois países.
As poucas fotografias que aqui mostro, não fazem de forma alguma justiça à beleza do conjunto destes painéis de azulejos, por isso, deixo-vos aqui um  filme  muito bonito, sobre a estação de Vilar Formoso, o qual, agradeço desde já ao seu autor.


terça-feira, 5 de junho de 2012

Um "Willow" da Real Fábrica de Sacavém


Intriga-me, este "Willow" da Real Fábrica de Sacavém comprado há poucos meses numa feira aqui no Norte e que, neste motivo, é dos mais bonitos que tenho visto, talvez, porque a sua decoração preenche bem todo o espaço do prato.

O  que me intriga?  Primeiro, a marca, que é muito semelhante a uma que consta no  Dicionário Marcas de Faiança e Porcelanas Portuguesas  correspondendo ao ano de 1885  e  que apresenta as letras B H S. &; Cª.  No meu prato, para além do  H ser substituído por um R, há uma colocação diferente dos pontos. Não sei se este último  pormenor é ou não relevante.
Mas voltando às iniciais e sabendo-se que elas, na primeira marca que refiro significam Barão de Howorth de Sacavém & Companhia, o meu prato pertencerá a outra época, e/ou outra administração, e estranho que apesar de ter feito muita pesquisa, nunca encontrei nenhuma marca igual a esta. Poderemos estar perante um qualquer erro, por exemplo um erro de impressão. Acrescento ainda que a palavra que encima esta marca não é CHORÃO, mas qualquer coisa como CHON… a última letra é impercetível. Outro erro? Já me parecem erros a mais.
A segunda questão  que me intriga é o conjunto de letras que se pode ver na foto de baixo e que desde o  início eu assumi pertencerem à palavra Maria. Há ainda um grupo de uma ou duas letras ligeiramente acima que eu não consigo decifrar. Escusado será dizer que fiquei a cogitar sobre quem seria esta Maria. 
Enquanto me propunha desvendar o enigma de letra R,  se é que há algum :) descobri uma marca de Sacavém que mostro a seguir, e que  refere uma D. Maria Francisca Meuron de Araújo, como sendo pintora amadora. Fiquei em pulgas! Começava a tomar sentido aquele nome! Mas nada é linear e simples. Como se pode ver na fotografia de baixo, a inicial Q que se segue ao Maria, não corresponde, como seria de esperar ao nome Francisca. Já a letra G poderá corresponder ao apelido Gomez, apelido que Maria Francisca  tomou por casamento, conforme veremos mais adiante.
Uma pesquisa no Google, sobre esta senhora levou-me até à sua árvore genealógica, onde se fica a saber que casou com o Conselheiro Augusto Gomez de Araújo (leremos qualquer coisa sobre ele já a seguir) mas, o mais relevante para este post é sem dúvida a referência que lhe é feita no livro de José Queirós, Cerâmica Portugesa, e que passo a transcrever.
'um celebre serviço de mesa, feito em Sacavém para a casa da
Quinta-Grande — Barreiro, de que é proprietário o nosso amigo o Sr.
Conselheiro Augusto Gomez de Araújo, encontram-se numerosos nomes a
assignarem as diferentes decorações nas peças de que se compõe o serviço,
por tantos titulos interessante. São elles : 
 D. Maria Francisca Meuron d'Araujo, D. Maria Benedicta de Sousa de Meuron d'Araujo, D. Anna Jechtel, D. Catharina Costa, Manuel Braga S. Romão, D. Fernando de Serpa, Raphael Hogan, Henrique Possolo, Eduardo Braga, Augusto Carlos Mattos da Cunha e Augusto Gomez de Araújo (p. 88).
Chego ao fim desta pequena pesquisa e outras questões se foram levantando, pelo que não cheguei a conclusão nenhuma, apesar de em alguns momentos, ter tido a convicção de que este prato poderia ter pertencido ao referido serviço de mesa. Muitas coisas ficaram por esclarecer. Por exemplo, o "R" do meu prato referir-se-á a Alice Rawstron, viúva do Barão de Sacavém, que após a morte do marido estabeleceu uma sociedade comanditária com o antigo guarda -livros da fábrica? Se se atribui a Maria Francisca a marca que mostro em cima, porquê um Q e não um F? Perguntas que ficarão por responder, ou talvez não. Temos assistido aqui, nesta pequena comunidade de amantes de velharias, ao desvendar de alguns "mistérios", bem mais intrincados do que este :)