quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Um berço, uma dúvida, algumas pistas

No meu último post mostrei um Menino Jesus deitado num berço feito de ramos de diversos arbustos e disse na altura, que tinha a convicção de que esta pequena cama poderia ser um trabalho de artesanato alentejano. Esta convicção advinha do facto de ter presente os trabalhos de cestaria típicos do Alentejo e também, porque esta peça foi pertença de uma tia natural de Campo Maior.

O conjunto de berço e Menino na noite de Natal

Nesta foto pode-se ver todo o trabalho do meu berço

Mas, por vezes há coincidências muito curiosas, muito engraçadas e inesperadas que deitam por terra as nossas certezas ou as nossas suposições. Então, aconteceu, que andava eu a preparar o post de hoje, quando, de pesquisa em pesquisa sobre as várias representações da natividade de Jesus vou ter ao site de uma organização católica norte americana, onde num texto sobre a preparação espiritual para o Natal vejo um berço em tudo igual ao meu! Contactei a autora do texto na esperança que ele me dissesse qual a origem do seu berço, mas não obtive resposta.
Foto retirada https://www.catholicculture.org/culture/liturgicalyear/blog/index.cfm?id=171
Entretanto descobri muitos, muitos mais berços destes, todos eles muito parecidos com o meu. No ebay e noutros sites de venda é apresentado como um trabalho artesanal espanhol e num outro sítio atribuem-lhe Malta como origem! Não considero nenhuma destas atribuições muito credíveis. Se não tivesse tentado tirar esta questão a limpo, hoje, na internet, circularia mais uma informação inconsistente, ou seja, que este berço seria um trabalho artesanal alentejano. Para mim a dúvida mantém-se.



4 comentários:

  1. Maria Paula

    Até parece mentira. Supunha-a já remetida a um silêncio perpétuo, quando de repente vi que publicou qualquer coisa nova no seu blog.

    Também não sei a origem do leito do seu menino Jesus, mas posso-lhe afirmar que as camilhas de imagens eram muito comuns no passado no nosso País. Relacionavam-se com o culto ao Menino Jesus, que nos conventos portugueses atingia as raias do exagero. As irmãs confeccionavam enxovais inteiros para as imagens dos Meninos, onde não faltavam sapatinhos, chapéus, botas, casacas, mantos e roupinhas interiores. Desse arsenal faziam parte pequeninas camas, que imitavam na perfeição os modelos de mobiliário da época. Essas camilhas são muito valorizadas na arte porque permitem reproduzem o mobiliário da época. O Museu Nacional de Arte Antiga tem uma colecção dessas camilhas, exposta junto à secção de mobiliário, que vale a pena visitar.

    Escreva talvez para dois ou 3 museus regionais alentejanos, fazendo uma consulta. Pode ser que encontre alguém simpático para a ajudar.

    Bjos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Luís
      É verdade.Estive muito tempo ausente e eu própria não sabia muito bem que destino dar a este blog. Várias vezes estive tentada a escrever um post de despedida e encerrá-lo de vez, mas ainda bem que não o fiz.O Luís, bloguista como eu, sabe como a motivação para a escrita de um post pode variar. Desde a preguiça pura e dura,até questões mais introspetivas, nos fazem adiar e voltar a adiar a escrita de qualquer coisa.
      Sobre este berço, acredito agora de que não se trata de artesanato alentejano. Já obtive resposta da autora do texto que refiro no post e, pasmemo-nos! O seu berço foi comprado no ebay :) E a verdade é que há dezenas destes berços à venda em vários sites e quase todos com referência a Espanha como o país de origem. Não creio. Se assim fosse, estariam mais divulgados aqui em Portugal. Ponho a hipótese de ser trabalho artesanal de algum país de língua espanhola e exportado para Espanha. Quero ver se tiro isto a limpo, o que passará pela sua sugestão de contactar alguns museus do alentejo.
      Bjs e boa semana

      Eliminar
  2. Os materiais que fazem esta sua cama parecem-me pouco caraterísticos de uma região em particular.
    Poderiam pertencer a tantas regiões, e, pelos vistos, a Maria Paula conseguiu, de uma forma notável, identificar esta como fazendo igualmente parte do património de outro país.
    Se bem que as peças têm o "hábito" de possuírem uma vida própria que as faz percorrer "seca e Meca" sem que disso tenhamos noção.
    Há pouco tempo, num antiquário ao pé de mim, aqui em Lisboa, vi à venda um peça de mobiliário antiga, que, por ser interessante, fez com que me ficasse na memória.
    Passados alguns meses vou encontrá-la à venda na feira de Estremoz! E, o mais interessante, é que estava por um preço mais baixo do que aquele por que se vendia ao meu lado!!!!
    Sabe-se lá a volta que as peças dão.
    Mas é uma peça muito singela e bonita esta que aqui nos apresenta.
    Uma boa semana e fico sempre encantado quando decide vir até ao nosso convívio
    Manel

    ResponderEliminar
  3. Manel
    Quantas vezes dou comigo a olhar para uma peça e pensar precisamente nos percursos que terá efetuado e nas histórias que terá protagonizado, sendo que a casa de cada um de nós, colecionadores e amantes de velharias é só mais uma etapa, um intervalo na sua existência, até que qualquer par de mãos trapalhonas ( cito o Luís :)) as deixem cair e interrompam longas viagens.
    Descobrir que este berço pode ser trabalho de qualquer outro ponto do globo que não o Alentejo foi uma grande surpresa para mim. Por vezes, as nossas memórias distorcem certos factos, que, vá-se lá saber porquê, vão tendo menos relevância. Só quando me confrontei com a existência de muitas outras peças iguais a esta é que percebi que fui tendenciosa na minha primeira análise, fixando-me nas origens alentejanas desta minha tia e no seu gosto pelas coisas antigas. Depois é que comecei a analisar outros factos, também muito importantes para deslindar este caso, como por exemplo, a sua filha também já falecida, ter viajado bastante e portanto, pode ter trazido este berço de alguma das suas férias.Mas, creio que não será difícil encontrar uma resposta.
    Quantos aos materiais usados nesta peça não os consigo identificar, mas dei com um estudo interessante sobre o trabalho de cestaria no Alentejo em que o autor refere a "matéria prima utilizada como caleidoscópica" e destaca uma quantidade de espécies. Algumas nem nunca tinha ouvido falar como é o caso do piorno e do carrasqueiro.
    Uma boa semana também para o Manel e muito obrigada pela forma amiga e atenciosa como sempre recebe a minha presença aqui

    ResponderEliminar